Ora o Silva tinha um papagaio — ave já velha e nem por isso muito esperta: gritava mais do que falava, e, quando falava, era sempre a mesma coisa. Um dia a mulher do Silva, maçada, muito naturalmente, com o vozear do pássaro, ergueu-lhe o poleiro da escápula sobre o quintal e vendeu-o a um viandante qualquer.
Quando o Silva voltou, à noite, para casa, e lhe faltou, de aí a minutos, a voz rouca da ave, procurou-a na escápula da parede sobre o quintal, não a viu, e foi à casa de jantar perguntar à mulher por ele.
«Vendi-o» disse ela, e enteada ria. O Silva retirou-se como de costume, sem dizer nada.
Foi, porém, ao quarto de cama, tirou o revólver da gaveta da mesa de cabeceira, voltou à casa de jantar e, com dois tiros calmos, certos e sucessivos, matou a mulher e a enteada.
Moralidade:
Nações imperiais e dominadoras, expansivas, cuidado sempre com o papagaio!
Quando as quatro varinas corriam em losango pela rúa e ao lado, a do avanço, loura e com olhos, deu com o instinto de troça contra o homem moço de barbas de velho que vinha tendo ar de sábio pelo passeio às avessas. E parou, e, instintivamente, os transeuntes pararam. E ela largou a mão de alto, de sobre a canastra, apontou para o homem e disse:
— Olhem para este barbaças.
Toda a paisagem humana riu junta.
O homem mogo de barbas velhas parou à beira do passeio como de um cais, olhou abstracamente a varina, e disse num tom triste:
— Bem se vê que foi tua avó que te pariu!
A varina estacou mais, corou, emudeceu com uns poucos de silêncios, e em torno rebentou, depois de um pouco, uma gargalhada do público já trespassado. Não se distinguía se a gargalhada era da resposta, se da confúsáo muda da varina loura.
O homem moço passou, levou as barbas de velho escondidas pelas costas viradas ao público que o aplaudira. Depois, num café, contou o episódio a um amigo. O amigo ouviu, riu, e depois não pôde rir. Por fim fez um gesto em que a face era envergonhada a medo.
— Você desculpe. Eu serei talvez estúpido, ou estarei estúpido hoje. Mas o que quer isso dizer?
— Não quer dizer nada, respondeu o outro. E aí é que está o golpe.
Moral:
Confundir é vencer.